Há canções que nos dizem coisas essenciais à vida e ao coração. O belo Samba da Bênção de Vinicius de Moraes
é uma dessas preciosidades. Um de seus tão significativos versos diz:
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Saber dizer as palavras certas,no momento certo,para a pessoa certa é a verdadeira arte do encontro,normalmente acertamos somente uma das três coisas.E quantas vezes,maus artistas que somos erramos as três?Escolhemos o momento inoportuno, erramos nas palavras, e escolhemos a pessoa errada?
Encontrarmo-nos de verdade com alguém é muito mais do que
compartilhar tempo e espaço, é de fato uma arte que nos faz mais fortes,
mais humanos e mais autênticos no decorrer da nossa existência.
Junto com outra pessoa nos deparamos não
só com ela, mas conosco; temos oportunidade – se tivermos a coragem e
sensibilidade da observação – de dar-nos conta de como somos na relação com o outro, no nosso melhor e no nosso pior. Quem nunca teve essa vivência de estar junto
e simplesmente ser o que se é, vendo o outro como ele é também? Num
momento fugaz sentimos – e não sabemos explicar racionalmente – que as
fronteiras entre o Eu e o Tu se dissipam, que é como
se fôssemos um só. Depois isso passa – normalmente num lampejo – e
seguimos em nossa individualidade, com a sensação de que fomos tocados
na nossa alma...
Porém, já disse Vinicius, há tanto desencontro pela vida... Estamos
focados no quanto produzimos, no poder que temos e no que possuímos.
Cruzamos com as pessoas ao nosso redor, mas não nos relacionamos com
elas. O filme Crash – No limite, de Paul Haggis (2004), faz uma bela descrição da nossa realidade cosmopolita e tem uma fala muito especial nesse sentido: "Em
Los Angeles ninguém te toca. Estamos sempre atrás do metal e do vidro.
Acho que sentimos tanta falta desse toque que esbarramos uns nos outros
só para sentir alguma coisa”.“Encontramo-nos” com dezenas, centenas de pessoas no espaço virtual – nossos “amigos” das redes sociais – mas quantos deles nós sabemos quem são de verdade? As relações amorosas são efêmeras – conhecemos pessoas, ficamos com elas, compartilhamos vivências e nossos corpos, mas quem são esses com quem estamos? Já ouvi histórias de pessoas que mantiveram um relacionamento amoroso por meses, às vezes anos, e ao reencontrar o “ex”, depois de terminados, não o reconhecem, perguntam-se: “o que é que eu estava fazendo com ele, mesmo?”. Assim consumimos relações, consumimos pessoas, e acabamos consumindo nossas vidas numa inquietação que pouco contribui para que sejamos melhores seres humanos. Se muitas vezes estamos distantes até do nosso interior, o que dizer de nos aproximarmos verdadeiramente do outro?
Essa escultura do chileno Tótila Albert (1892 – 1967) retrata bem Encontro de que falo (La Tierra, 1957). A peça dá ensejo a várias leituras simbólicas e espirituais, muito mais do que caberia nesse texto. A essência do que quero ilustrar com ela é a relação entre essas duas pessoas – que não necessariamente são um homem e uma mulher, mas podem representar o Masculino e o Feminino em nós – que se unem, mas mantêm a sua individualidade. Estão em equilíbrio, como numa dança de aproximação e afastamento de forças. Juntos, mas podem se separar a qualquer momento, sem deixar de ser quem são.Assim são os verdadeiros Encontros Existenciais que nos conduzem ao crescimento: estamos inteiros com o outro, entregues ao momento e ao final dele continuamos em nossa caminhada mais fortalecidos em nosso Ser.
E finalizo com um outro convite, à CORAGEM. Coragem de, quando “esbarrarmos” com alguém, nos permitirmos estar presentes e inteiros naquele momento, sem máscaras, nos vendo como somos e encontrando o outro como ele é. Um convite a crescer, juntos.
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